Em um dia de sorte
Dei um pinote à esquerda
E desviei da ceifadora.
Ela, que nos espreita
Desde os tempos em que
Se escrevia mia Senhor
(dizem que até antes. Dizem
Que ela foi o meteoro
Que destroçou os lagartos gigantes)
Depois seguiu a colheita.
No Brasil a safra já foi de Gregório,
O infernal, cantor de tudo o que é
[inglório,
Como também foi de Augusto,
Que esfregava suas palavras
[bem longe dos anjos,
Sempre nos cantos mais sujos.
Cortou da Terra e na terra plantou
O afiado Machado.
Colheu todos a seu tempo, talvez
Alguns um tanto cedo, mas nada
[verdes,
Como Álvares de Azevedo.
Ano a ano, dedicada a sua
[necessária lida.
Seu trabalho não levou no entanto
[o trabalho
Desses e de outros tantos, que a
[obra fica:
Foi um João do Rio que ficou em
[minha vida
Tentou levar, mas estão vivos nas
[estantes
Ou diariamente nas ruas, sujos,
De domingo à sexta-feira,
Ou em poemas sujos, como os de
[Gullar,
O Ferreira,
Esse, o mesmo que me fez virar
[à esquerda
E escapar de quem me esperava
[de emboscada
Para ver um seu exemplar
Exposto na prateleira.
Autoria de Vitor Motta
Vitor Motta
Sobre o autor
Poeta, professor de Literatura, Língua Portuguesa e redação. Atualmente desenvolve sua pesquisa de mestrado sobre a formação do leitor literário e resiste às loucuras do país divulgando seus poemas de tom crítico e com humor ácido nas redes sociais.
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