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  • Foto do escritorLuiza Pessôa

Lavoura Arcaica: uma das maiores obras do cinema brasileiro

Atualizado: 1 de jul. de 2020

A indicação de filmes é sempre uma tarefa arriscada, já que não é possível agradar a todos. Tratando-se de filmes alternativos, nada convencionais, a empreitada torna-se ainda mais difícil. No entanto, esse artigo traz uma indicação que, certamente, não agradará a todos, mas que possui a potencialidade de transformar ou, quem sabe, transtornar o seu espectador. O fato é que, dificilmente, sair-se-á ileso após uma sessão deste filme. Sem dúvida, provocante, instigante, tocante, Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho, é um filme especial, pouco conhecido do grande público, apesar de muito premiado e reconhecido no meio artístico e por aqueles que buscam filmes alternativos.

Uma obra que transborda para além das suas duas horas e cinquenta minutos de duração.

Lavoura Arcaica é uma adaptação para o cinema do romance homônimo de Raduan Nassar. A direção é de Luiz Fernando Carvalho e o filme conta com um elenco de excelente qualidade do qual fazem parte Selton Mello, Raul Cortez, Juliana Carneiro da Cunha, Simone Spoladore, Leonardo Medeiros, Caio Blat, entre outros. Aqueles que alimentam certo preconceito em relação às adaptações da literatura para o cinema, que fiquem despreocupados. Livro e filme são duas obras de igual primor. Pode-se dizer que o filme de Luiz Fernando Carvalho é uma das obras mais respeitáveis que o cinema brasileiro já produziu. De uma sensibilidade ímpar, não é, no entanto, um filme fácil de assistir. Durante quase três horas de filme, o espectador experimenta emoções, sensações, desconfortos, numa experiência sinestésica de grande poder perturbador. Não é, sem dúvida, um filme convencional.


Na trama, André (Selton Mello) é um dos sete irmãos de uma família de tradições patriarcais e rígidas que sai de casa por não suportar a severa rotina e leis da casa impostas pela figura do pai (Raul Cortez). Pedro (Leonardo Medeiros), irmão mais velho, é incumbido de trazê-lo de volta. Cedendo aos apelos do irmão, André retorna à família, mas a ruptura dos valores impostos é inevitável e gera graves consequências.

Essa descrição é, no entanto, apenas uma simples sinopse, incapaz de revelar o que o filme reserva aos que insistirem em apreciá-lo até o final. Digo isso, pois o ritmo, o texto e a densidade do filme, muitas vezes não são confortáveis, e o espectador pode acabar abandonando a sessão antes dos primeiros trinta minutos de filme. Aqueles que resistirem, no entanto, ao desconforto inicial, causado pelos diálogos entre os dois irmãos e pela densidade que se apresenta desde os primeiros momentos do filme, viverão uma experiência singular, gostando ou não, que criará uma montanha-russa de emoções ao longo da história. Os que conseguem chegar até o final do filme, frequentemente assistem a ele mais de uma vez, descobrindo novos detalhes e deparando-se com novas reflexões a cada sessão.


É um filme que não se esgota. Uma obra que transborda para além das suas duas horas e cinquenta minutos de duração. Um filme que não termina quando acaba, assim como o livro de Raduan Nassar. Toda a poesia de Nassar está presente no filme, às vezes no próprio texto do autor, conduzido magnificamente pelos atores, outras vezes traduzida pela fotografia de Walter Carvalho ou pela trilha sonora, tão sensível, de Marco Antônio Guimarães. Tudo é cuidadosamente elaborado e entrelaçado. Enquanto Raduan Nassar, com toda a sua genialidade, rima “sorvos sôfregos” com “passo trôpego”, Luiz Fernando Carvalho rima atuação com iluminação na construção de uma verdadeira obra-prima do cinema brasileiro.



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