Há muito tempo, existiu em uma das tribos do Amazonas, uma mulher muito perversa que, entre outras maldades, devorava crianças. Para acabar com tantas dores causadas por ela, a tribo decidiu atirá-la no rio, para que se afogasse. Porém, Anhangá – o gênio do mal – não quis deixá-la morrer e casou-se com ela, dando-lhe um filho. O pai transformou o menino em uma cobra, para que ele pudesse viver dentro do rio. Porém, logo a cobra começou a crescer e crescer.
O rio tornou-se pequeno para abrigá-la e os peixes iam desaparecendo devorados por ela. Durante a noite seus olhos iluminavam como dois faróis e vagavam fosforescentes por sobre os rios e as praias, espreitando faminta a caça e os homens.
As tribos aterrorizadas deram-lhe o nome de Cobra Grande. Ela também é conhecida como Boiúna ou Mãe D’Água.
Quando a mãe da Cobra Grande morreu, sua dor se manifestou por um ódio mortal e, depois daquele dia, ela passou a viver adormecida debaixo das grandes cidades. Só acorda para anunciar o verão, mostrando-se no céu em forma da constelação Serpentário, ou então, para assustar as tribos apavoradas com a luz dos relâmpagos durante as grandes tempestades.
Diz a lenda que uma vez por ano a Boiúna sai de seus domínios para escolher uma noiva entre as cunhãs da Amazônia. E, diante daquele enorme vulto prateado de luar que atravessa vertiginosamente o grande rio, os pajés rezam, as redes tremem, os curumins escondem-se chorando, enquanto um imenso delírio de horror rebenta na mata iluminada.
Waldemar Henrique, compositor paraense, musicou a lenda da Cobra Grande com a seguinte letra:
Credo! Cruz!
Lá vem a cobra-grande
Lá vem a boi-una de prata
A danada vem rente à beira do rio
E o vento grita alto no meio da mata
Credo! Cruz!
Cunhantã, te esconde
Lá vem a cobra-grande
Faz depressa uma oração
Pra ela não te levar
A floresta tremeu quando ela saiu
Quem estava lá perto de medo fugiu
E a Boiuna passou logo tão depressa
Que somente um clarão foi que se viu
Cunhantã, te esconde
Lá vem a cobra-grande
Faz depressa uma oração
Pra ela não te levar
A noiva cunhantã está dormindo medrosa
Agarrada com força no punho da rede
E o luar faz mortalha em cima dela
Pela fresta quebrada da janela
É cobra-grande!
Lá vai ela!
Escute, no link abaixo, a canção "Cobra Grande" gravada por Gastão Formenti em 1935.
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