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Foto do escritorAo Redor - Cultura e Arte

IMPACTO DO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO NA ARTE


Foto de Swapnil Sharma

A maneira como os artistas criam e os espectadores absorvem a arte passa por transformações significativas à medida que novas tecnologias emergem e se desenvolvem. A convergência da arte com a inteligência artificial (IA) representa o marco mais recente do impacto do desenvolvimento tecnológico na produção artística contemporânea. Se por um lado, o advento tecnológico da IA assusta pela ameaça de substituição da criatividade humana, pela dificuldade de regulamentação de direitos autorais, entre outras preocupações, a observação da história da arte pode nortear perspectivas menos apocalípticas nos lembrando que as transformações fazem parte da nossa história. A fotografia, o cinema, a televisão e a realidade virtual são apenas alguns exemplos de como a tecnologia influenciou a criação artística ao longo dos séculos.


A invenção da fotografia na primeira metade do século XIX gerou fortes mudanças na maneira de se pensar a representação da realidade, provocando uma crise na pintura. Não fazia mais sentido pintar quadros com o objetivo de representar a realidade se a câmera fotográfica fazia isso de maneira rápida e precisa. A partir desse momento, a pintura começou a se modificar e novos estilos e movimentos artísticos surgiram. O Impressionismo, que nasceu na França por volta de 1870, é um exemplo claro da influência da fotografia no curso da pintura.


Distanciando-se cada vez mais da tentativa de reprodução da realidade, a pintura continuou caminhando para uma abstração cada vez maior. Nasceu o cubismo com suas formas geométricas, recortes e decomposições de imagens, além da ausência de perspectiva para um rompimento ainda mais decisivo com a representação realista. Em pouco tempo chegava-se à arte abstrata estabelecendo-se uma pintura na qual importavam apenas as sensações e expressões artísticas obtidas através de cores e formas puras. Por essa perspectiva, podemos dizer que o impressionismo, o cubismo e a arte abstrata foram, em certa medida, impulsionados pela invenção da fotografia.

Por sua vez, a própria fotografia, que parecia o ápice da representação da realidade, testemunhou o surgimento do cinema. Assim, a fotografia artística também desenvolveu elementos conotativos, alegóricos e expressivos, não se restringindo a captação do real.


Percebemos que não foram mudanças apenas instrumentais, ou de suporte, mas momentos em que a tecnologia reformulou o papel do artista como criador e a razão de ser de determinadas linguagens artísticas.


Nos anos 60 do século XX, Manfred Mohr, artista alemão e um dos pioneiros da arte digital, começou a desenvolver seus próprios programas de computador para criar obras de arte abstratas e geométricas. Ele utilizava linguagens de programação para escrever algoritmos que geravam imagens a partir de fórmulas matemáticas complexas. Suas obras eram criadas por meio de processos automatizados, o que permitia uma precisão e uma complexidade que seriam impossíveis de se atingir manualmente. As obras de Mohr eram marcadas pela precisão geométrica, com linhas retas, ângulos perfeitos e formas abstratas que pareciam se mover e se transformar diante dos olhos do espectador. As obras de Mohr são, hoje, valorizadas por colecionadores e instituições de arte em todo o mundo. Em 2013, uma grande retrospectiva de sua obra foi realizada no ZKM | Centro de Arte.


Mas a obra de Mohr não é apenas uma celebração da tecnologia e da matemática. Ao criar imagens abstratas que parecem ganhar vida diante dos nossos olhos, Mohr nos leva a questionar nossas percepções e nossas formas de ver o mundo. Suas formas geométricas precisas e cores vibrantes nos convidam a explorar novas possibilidades e perspectivas sobre a realidade que nos cerca.


Com o advento da inteligência artificial, a interseção entre tecnologia e arte atingiu um novo patamar. À medida que a inteligência artificial se torna mais sofisticada, surgem desafios éticos e estéticos. A questão da originalidade, a autonomia da máquina e a responsabilidade do artista na criação de obras de IA são temas centrais nas discussões contemporâneas. Boris Groys, filósofo e crítico de arte, aborda a questão da autoria e originalidade no contexto da arte gerada por algoritmos e inteligência artificial. Para ele, a ascensão da tecnologia desafia a concepção tradicional do artista como um criador único e autônomo. Ele explora a ideia de que, ao utilizar algoritmos, a autoria se desloca para a criação do código ou do programa.


Em outro aspecto da discussão está concentrada a renomada artista visual, teórica e cineasta alemã Hito Steyerl. Steyerl é especialmente reconhecida por seu trabalho que aborda temas sociais, políticos e tecnológicos, muitas vezes explorando as interseções complexas entre imagem, mídia, globalização e poder. Em seus discursos, ela explora as consequências sociais e políticas da fusão entre arte e tecnologia, abordando, por exemplo, as assimetrias de acesso à tecnologia na sociedade.


Ao mesmo tempo em que os debates acontecem, artistas contemporâneos estão explorando o potencial da IA como uma ferramenta colaborativa, incorporando algoritmos e redes neurais em seus processos criativos.


Que transformações serão propiciadas por essa nova onda tecnológica e quais as suas consequências na criação e produção artística, só os próximos capítulos da História da Arte irão contar. No entanto, constantes reflexões e debates, em diferentes esferas da sociedade, abrangendo áreas como filosofia, política e jurisprudência são necessários para escrever essa história.


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