Apesar de ver tanta gente
das luzes ofuscarem minha mente
do barulho dos carros a ensurdecer
sei que ainda posso ver
mesmo quando anoitecer
as lembranças guardadas da minha
[terra a renascer
a ascender na urbana atmosfera
a paisagem serena da antiga serra.
A longa estrada que nos separa
traz a falta que em mim dispara
a saudade do solo em que me criei
do meu povo, da cultura que jamais
[deixei.
Sonhar me faz reencontrar
um sertão querido
não árido
que em meu coração sempre vai
[estar.
Reencontro a pequena cidade
de um interior rico em muita
[simplicidade.
Reencontro a feira
que minha mãe trabalhava na
[maior zoeira
colhendo e vendendo o alimento
pra garantir nosso sustento.
Para mim, era mais brincadeira!
De tolda em tolda, pulava pra tocar
[o artesanato.
Era chapéu e vassoura de palha,
[panos pintados à mão
carrancas que olhava sempre com
[admiração.
Os cordéis e xilogravuras nem
[precisava comprar
pegava, sentava e viajava na
[literatura de um cabra
Zé Monteiro que reconhecia de cara
ao ver a imagem do pau-de-arara.
As esculturas no acero
de Santo Antônio, Santo João e
[Padre Cícero
eu não podia tocar
eram sagradas demais, eu não podia
[quebrar
mas as redes em renda, miçangas e
[ponto cruz
não escapavam das minhas molecagens
[sob um céu de muita luz.
Reencontro as casas de taipa,
[o fogão a lenha...
Ouço... as estórias (re)contadas pela
[vó na maior resenha
o barulho das galinhas a correr pelo
[terreiro
o tocar do gado pelo boiadeiro
durante as longas tardes debaixo
[do umbuzeiro
lendo os romances de Carrero.
Minha força ainda é saber
que a rica poesia sertaneja se faz
[conhecer
pela simples escrita à mão de
[Mailson Furtado
pois literatura se faz com letras e
[não com o valor negociado.
A força ainda é saber
que o filho do agricultor
que um dia foi pra capital sonhando
[ser escritor
a sua casa um dia de fato retornará
trazendo pra compartilhar
o conhecimento que foi buscar.
Pode o tempo passar
não importa a estrada a contar
o sertão sempre será meu anfitrião.
Sei que haverá sempre uma ocasião
pra voltar com o coração cheio de
[respeito e admiração.
Haverá sempre um chamado...
[ao ouvir o som do baião.
Autoria de: Isadora Cristiana Alves da Silva
Sobre a autora
Pós-graduada em Ensino de Língua Portuguesa, Graduada em Letras - Língua Portuguesa e suas Literaturas pela Universidade de Pernambuco. É escritora, poeta e sonhadora, busca através de seus escritos encantar e inquietar o mundo.
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